[Imagem: escultor Helder Batista
in Mémórias de um casapiano, Augusto Poiares
Jornal « O Casapiano »]
Quase trinta anos que voltei as costas àquela que o escritor e político, Latino Coelho chamava a Universidade Plebeia. Quase trinta anos que, todos os anos, a nostalgia de um tempo ido, me traz sempre o mesmo nó à garganta.
Guardo da minha infância planícies de solidão e ausências de afectos, próprias àqueles que conheceram uma infância vivida na ausência dos pais
Contudo, a estas imagens veio, com o tempo, misturar-se o orgulho ter pertencido a uma das mais nobres escolas do país. Foi là que aprendi os valores de solidariedade, de tolerância e de respeito da diferença, que ainda hoje guiam a minha conduta. Uma escola onde a fraternidade não era uma palavra morta.
E mesmo se a vida sempre me levou para horizontes longinquos e nunca tenha participado nem a encontros nem a jantares de ex-alunos, não é menos verdade que longe da vista mas pertinho do coração que bate sempre com mais força, cada vez que oiço o nome daquela que me preparou para a vida.
E logo me surgem imagens da infância. Com a mesma brutalidade que a fúria do mar, nas manhãs de inverno…
Recentemente, e após um tão mediático caso de pedofilia, a Casa Pia de Lisboa, conheceu um período assaz difícil que foi (e continua a sê-lo) tratado, na sua grande maioria, com a estupidez própria ao sensasionalismo jornalístico. Muito foi dito. Por muitos. Com a frequência própria aos ignorants que mais não procuram que ouvir o estalar do chicote das suas própias palavras sem, no entanto, se preocuparem, de facto, com a verdade.
A sua boa consciencia jornalística esquece que a pedofilia não é um fenómeno ligado às instituições, mas sim à sociedade à qual, de resto, eles também partencem. A maior parte desses jornalistas, ignora que a Casa Pia de Lisboa é bem mais do que uma mera instituição fechada entre quatro muros de cimento. Antes pelo contrário, a Casa Pia sempre foi uma instituição aberta ao mundo.
A Casa Pia são milhões de homens e mulheres. Pais, avós, filhos e netos, espalhados pelo mundo. A Casa Pia sou eu, é outro. Aquele que não conheço, mas que é irmão da minha infância.
É esta certeza de nos reconhecermos e de falarmos as mesmas palavras, chorarmos as mesmas lágrimas e rirmos as mesmas gargalhadas, mesmo quando alguns anos separam a nossa passagem pela instituição.
E estou convicto que como eu, tantos irmãos da minha infância sofrem em silêncio tanta estupidez, fruto de um sensacionalismo estéril onde abundam rios de palavras, inúteis e gratuitas.
Hoje, a Casa Pia de Lisboa comemora os seus 229 anos de existência.
Revejo-me uma vez mais. Como todos os anos e já lá vão praticamente trinta anos. Penso à tantos outros, irmãos da minha infância. Companheiros de recreio. Amigos de viagem. Que lhes terá reservado o tempo passado na selva da existência?
Penso e rejevo imagens longinquas e esboço um sorriso.
Todas as minhas recordações de infância nascem e morrem na Casa Pia de Lisboa. Todos os meus primeiros sonhos de vida nasceram na Casa Pia de Lisboa. O homem que hoje sou nasceu na Casa Pia de Lisboa. E onde me encontre a Casa Pia está sempre no meu coração. E sinto orgulho nisso.
Que a festa seja bela.
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Dos Jerónimos ao «Estado Novo»
Formei um grupo no Facebook chamado Casa Pia de Lisboa, com o objectivo de unir todos os casapianos por este mundo fora, como eu e tu, já somos 300 membros.
Saudações gansiadas
Rui Alves
Nostalgia é certo. Tristeza, às vezes. Mas daquele com um sorriso nos lábios para disfarçar. Shutt. Não disse nada.
Há por aí nostalgia e tristeza, certo?
um grande abraço Armando.